sexta-feira, 30 de julho de 2010

ICEWINE



A uva que veio do gelo
O icewine coloca o Canadá na rota dos grandes vinhos

fotos reprodução “Icewine (de Donald Ziraldo e Karl Kaiser)
Uvas maduras e congeladas, a mais de 8º C negativos, aguardam a hora da colheita
Difícil acreditar que uvas congeladas, numa temperatura abaixo dos 8ºC negativos, possam resultar em bons e complexos vinhos de sobremesa. Mas é exatamente o resultado da equação de vinhedos plantados numa região muito fria, com clima influenciado pelo lago Ontário, com variedades de uvas européias, como a Cabernet Franc ou a Riesling, e muita tecnologia que está colocando o Canadá no mapa da vitivinicultura mundial. No ano que vem, aliás, o país dos lenhadores comemora os 25 anos de sua primeira garrafa do chamado icewine, o vinho de gelo.
O potencial do país começou a ser explorado em meados da década de 1970 pelo austríaco Karl Kaiser – além do Canadá, a Alemanha (a líder na elaboração deste estilo de vinho) e a Áustria elaboram a bebida das uvas congeladas, também conhecida como Eiswein ou Vin du Glace. Kaiser imigrou para o país em 1969 e seis anos mais tarde fundou a vinícola Inniskillin em parceria com Donald Ziraldo, na época dono de uma chácara que vendia mudas de videiras. Os sócios elegeram a região de Niagara, em Ontário, fronteira com os Estados Unidos. Sua localização, na mesma latitude de Bordeaux, alimentava o sonho de Kaiser em elaborar um icewine de qualidade.
videiras de Vidal
Nos vinhedos da Inniskillin, variedades européias como a Cabernet Franc e a Riesling foram plantadas, no lugar da popular Nebraska, utilizada pelas então cinco vinícolas que produziam vinhos em larga escala na região. No entanto, a uva Vidal, resultado do cruzamento das cepas Ugni Blanc com a Rayon d’Or, conhecida pela sua casca grossa e boa acidez, foi a principal aposta dos sócios. Em 1984, eles lançaram a pioneira garrafa de icewine canadense.
O grande reconhecimento veio em 1991, durante a Vinexpo, a mais tradicional feira de vinhos realizada em Bordeaux, França. Ziraldo cruzou o Atlântico com uma garrafa do Inniskillin Vidal 1989 e saiu da feira com o prêmio Grand Prix d’Honneur. Foi o passo necessário para mostrar que o Canadá poderia ter um vinho de sobremesa com sucesso internacional – atualmente, a Inniskillin exporta para 50 países, com destaque para o mercado asiático.
Com primeiro vinho lançado em 1984, o Canadá produz hoje mais de 885 mil litros de icewine por safra e tem até uma região de origem controlada


cepa híbrida utilizada no icewine
O sucesso da empresa inspirou outras vinícolas canadenses a investirem em vinhos premium. Hoje o Canadá tem até uma região vinícola de origem controlada, a VQA (Viniters Quality Alliance), produz mais de 885 mil litros de icewine por safra, e a elaboração deste vinho ícone segue uma série de regras. A colheita só pode começar quando a temperatura se mantém a, no mínimo, 8ºC negativos. Na Alemanha e na Áustria, o mínimo permitido é 7ºC negativos. O Canadá adota normas mais rígidas como forma de se destacar dos produtores tradicionais. “Quando chega a 8ºC negativos, a uva está solidamente congelada. 7º C negativos é a linha divisória”, explica Kaiser. O limite da colheita é 14ºC negativos – abaixo, a uva está tão congelada e sólida que o mosto final é pouco, excessivamente doce e quase impossível de ser fermentado.







A colheita ocorre entre dezembro e janeiro. Mas, já em outubro, redes são colocadas nas videiras para protegê-las do ataque dos pássaros. “Perto do inverno, as uvas são a fonte mais atraente de alimentação para os animais”, conta Debi Pratt, gerente de Relações Públicas desde a inauguração da Inniskillin. As uvas costumam ser colhidas durante as madrugadas frias, quando as uvas atingem os graus ideais de doçura. Na Inniskillin, que tem 38 hectares próprios em Niagara e também recebe uvas de 25 produtores da região, a colheita é realizada por máquinas.
uma gravura da vinícola da Inniskillin

fotos reprodução
o vinhedo coberto de neve e a colheita noturna

Na cave subterrânea, Karl Kaiser (à esq.) e Donald Ziraldo comemoram o sucesso de seu vinho pioneiro no Canadá
As uvas congeladas seguem imediatamente para a prensa hidráulica para não derreterem. São prensadas cuidadosamente, para não quebrarem os cristais de gelo, e o suco permanece no tanque de fermentação por mais de um mês até atingir cerca de 10 a 12% de grau alcoólico. É o mesmo processo para a produção dos icewines no Velho Mundo. Em 2002, os três países produtores assinaram um acordo para manter os padrões de produção.
As brancas Vidal e Riesling e a tinta Cabernet Franc são as uvas utilizadas no icewine da Inniskillin. Os dois primeiros apresentam uma cor dourada, e a uva tinta traz coloração semelhante ao rosé.“Não há contato do líquido com as cascas na fermentação e o pouco tanino adquirido durante a prensa dá esta cor”, explica Kaiser. No aroma, os brancos lembram frutas tropicais e notas de pêssego; no tinto, são notas de frutas vermelhas frescas. Nos dois estilos de icewine, o Canadá merece um brinde.
Taça certa
A importância do icewine alcançou a Riedel, a mais conceituada empresa de taças para vinhos do mundo. No ano 2000, Georg Riedel, dono da marca, participou de um seminário sobre o vinho, promovido pela Inniskillin, e decidiu elaborar uma taça específica para a bebida. O resultado é uma taça pequena (foto), cujo bojo tem o formato que lembra a base da flor de tulipa, e o formato mais aberto na borda libera os aromas da bebida. Não disponível no Brasil, a taça custa cerca de US$ 35 no mercado norte-americano. Por aqui, aliás, o icewine é uma raridade. A bebida canadense ainda não é importada para o Brasil, mas é possível encontrar garrafas do produtor austríaco Alois Kracher, trazidas pela Mistral.



extraído de: revistamenu.terra.com.br

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