quinta-feira, 4 de março de 2010

Chile perde mais de 150 milhões de vinho com o terremoto


O Chile perdeu o equivalente a mais de 150 milhões de garrafas de vinho em consequência do terremoto de 8,8 graus ocorrido no último sábado.


Os produtores chilenos de vinho calculam em US$ 250 milhões os prejuízos com os estragos. A Associação de Vinhos do Chile, entidade que reúne cerca de 90% dos produtores locais, divulgou uma estimativa de que a perda chega a 125 milhões de litros conservados em barris, já engarrafados ou armazenados.

Isso significa mais de 150 milhões de garrafas - o equivalente a um quarto do que é consumido pelo Brasil em um ano. A perda "comparada com a abundante colheita de 2009, que alcançou 1,1 bilhão de litros, equivale a 12,5%", informou a associação em nota enviada ao iG na tarde desta quarta-feira.

Safra do terremoto

A indústria do vinho do Chile é uma das mais dinâmicas do mundo. Exporta mais da metade de sua produção, gerando receitas superiores a US$ 1 bilhão por ano. A colheita de uva de 2010, que deve ser conhecida como "a safra do terremoto", começa neste fim de semana. E os produtores garantem que ela é a prioridade neste momento.

As vinícolas mais afetadas ficam nas regiões de Maule, Bio Bio e Itata, onde o governo chileno decretou estado de emergência. "A área com maior impacto é o coração da produção de vinhos", disse a vinícola Concha y Toro, a maior do Chile em produção e principal exportadora da bebida na América Latina. A empresa suspendeu por pelo menos uma semana sua fabricação e distribuição de vinhos.

Essas regiões, que concentram quase 40 vinícolas e ficam em parte do chamado Vale Central, estão próximas da cidade de Concepción, ao sul de Santiago. Entre as vinícolas, estão rótulos conhecidos produzidos por empresas como Canata, Calina, Carta Vieja, Casa Patronales, J. Bouchon, Terranoble e Via Wine Group.






Estragos na vinícola J Bouchon

O terremoto derrubou um muro antigo sobre parte dos barris da vinícola Julio Bouchon, afetando cerca de 10% da produção da safra de 2009.

"Isso significa algo como 150 mil litros, menos do que outras vinícolas que perderam 500 mil litros", informou ao iG por telefone Gabriela Iturralde, da vinícola J. Bouchon, criada há mais de 100 anos, que fica na região de Maule onde possui cerca de 350 hectares. O vinho engarrafado não foi afetado. A expectativa da vinícola é que a produção se normalize nos próximos dias.

Produtores de vinho como Miguel A. Torres tiveram 300 barris destruídos, uma cuba de aço inoxidável com capacidade de 100 mil litros quebrada além de milhares de garrafas perdidas. "Felizmente a estrutura principal do edifício resistiu ao terremoto, e a empresa espera em breve a recuperação", disse em comunicado.

Infraestrutura prejudicada

Os danos na infraestrutura de portos e rodovias não foram totalmente quantificados pela indústria de vinhos do Chile. A Casa Patronales, que tem sua adega e plantação numa das regiões mais afetadas, espera apenas a retomada da energia elétrica para voltar à normalidade, disse seu diretor comercial, Alexs Fuentealba, ao iG.

"Temos certeza que em curto prazo as encomendas e o cumprimento das obrigações comerciais retornarão à normalidade sem maiores problemas", diz a Associação de Vinhos do Chile, em nota, lembrando da necessidade de reforçar a imagem internacional do vinho chileno no exterior.

Pouco depois, uma mensagem enviada por e-mail por Constanza Aldea, porta-voz da associação dos produtores, alertava para o novo tremor em Santiago, de 5 graus, ocorrido nesta tarde de quarta-feira. "Não sei quanto vai durar isso, mas estamos otimistas. O que mais podemos fazer?"


Texto de Ademir Canhoto

quarta-feira, 3 de março de 2010

Rios vermelhos percorrem o Chile


As notícias sobre perdas na vitivinicultura chilena em decorrência do terremoto de sábado seguem chegando, e entre as descrições que ajudam a entender o tamanho do estrago a de Raimundo Valenzuela, diretor da R&R Wines, grande exportadora de vinho a granel daquele país, talvez seja a mais impactante. Segundo ele, na tarde de sábado "os rios corriam vermelhos" nos arredores de Curicó, cidade em que estava localizado.

Outro relato que impressiona é o do enólogo Sven Bruchfeld, que em conversa com o crítico James Molesworth, da revista Wine Spectator, contou que "há cheiro de vinho às margens das estradas em frente às cantinas".

Um levantamento feito pelo site Argentine Wines aponta que as vinícolas Viu Manent, Casa Silva y Los Vascos estão entre as mais prejudicadas pelo sismo.


Texto de Maurício Roloff

Não coloque as garrafas na adega, mas no cofre


O
texto sobre leilões enológicos da semana passada fermentou um assunto que intriga muitos degustadores iniciantes: como pode uma simples garrafa de vinho custar US$ 25 mil ou mais? O que leva 750ml de uma bebida custar os olhos da cara? Para início de conversa, não são simples garrafas de vinhos. Uma coisa é chamar de caro aquele exemplar que você comprou no supermercado e nem gostou muito. Outra é entender que esses produtos de valor exorbitante são exclusivos, distantes da realidade do enófilo padrão, e carregam consigo uma série de diferenciais que podem ser basicamente divididos em seis quesitos.

 

Investimento: para elaborar um produto de alta gama é preciso gastar. Assim, o vitivinicultor tem de adquirir o terreno adequado, os clones top de cada casta (não se engane: nem todo cabernet sauvignon é igual), embarcar tecnologia na cantina, equipar a cave com barricas (que dependendo da qualidade podem custar mais de US$ 500 cada), enfim, comprar o melhor para produzir o melhor.

Minuciosidade: os grandes vinhos são talhados com o máximo cuidado. Colheita, seleção e desengaço (separar o grão da uva da haste) são processos que podem ser mecanizados, mas em vinícolas top é comum que eles sejam manuais. Para isso é preciso gente qualificada, e gente custa caro. Aqui é preciso incluir o trabalho de enólogos e cantineiros experientes, que vão tratar a bebida com o respeito que ela merece.

Desperdício: para alcançar um produto de qualidade é preciso abrir mão de quantidade, ou seja, jogar fora parte do que poderia virar UM vinho, mas não é bom suficiente para ser O vinho. Exemplos são a prática do raleio, que reduz a carga de cachos de uma videira para que os que sobraram se desenvolvam melhor, e a preferência dada ao mosto flor, suco retirado das uvas sem o uso de prensagem (o chamado vinho de prensa traz consigo acidez e taninos menos desejados para um produto premium, por isso é dispensado ou utilizado em quantidades menores para balancear o resultado final).

Tradição: como em qualquer produto hoje em dia, a marca faz a diferença. Não necessariamente na qualidade, mas na credibilidade e no preço. Existem cantinas que levaram anos para construir sua imagem e há as celebridades instantâneas. E quando uma empresa se torna referência em seu ramo, é natural que debite essa responsabilidade na conta de seus clientes _ que, aliás, são os culpados por a colocarem em um pedestal.

Oferta x demanda: aí está outra uma regra que não pode ser atribuída exclusivamente ao universo enológico. Para quem acha que vinhos assim são difíceis de sair da prateleira, é bom dizer que muitos são vendidos enquanto ainda estão na barrica, quando não há a garantia de que sairão tão bons quanto seus antecessores. Além disso, produtos assim costumam receber ótimas críticas de avaliadores famosos, o que causa uma corrida entre os consumidores.

Juros: o conceito de juro parece nascido no mercado financeiro, mas é algo da natureza. Ao plantar uma semente, o agricultor precisa esperar o crescimento da planta para colher seu rendimento, que é a fruta. Na enologia é igual. Tem um custo esperar que videiras envelheçam e produzam uvas melhores, assim como guardar o vinho em barricas ou em garrafas nas caves subterrâneas. Quem retém a bebida para que ela amadureça corretamente, seja o produtor ou um intermediário, vai repassar esse gasto ao consumidor final. E quanto mais valioso o item guardado, maior o juro.

 

A questão pendente é se vale a pena pagar tanto por um prazer tão efêmero? Depende. Para os adeptos de generalizações, que classificam os rótulos apenas como "bons" ou "ruins", não. Claro que existem exageros nos preços, mas acredite: há vinhos em que é possível enxergar dentro do cálice todos os itens descritos acima. Aí você saberá que aquela pequena fortuna foi bem gasta.


Texto de Maurício Roloff

Terremoto no Chile

Uma imagem da Villard do Chile após o terremoto!


Os tintos de clima frio

No Chile há uma tendência a plantar variedades tintas em regiões de clima frio, de jeito de obter vinhos com menor quantidade de açúcar, mais ácidos, frescos e leves, de acordo com a procura internacional. Matéria publicada pela Revista del Campo, do jornal El Mercurio, de Santiago do Chile.


A decisão de Felipe Díaz era óbvia. Na pior das hipóteses, a dúvida poderia ser se plantar mais hectares de chardonnay ou de sauvignon blanc. Para qualquer um que conhecesse o meio vinícola chileno de finais dos anos 90 ficava claro que Díaz devia “entupir” sua fazenda Loma Larga de variedades brancas.

Não era à toa que a propriedade agrícola que sua família tinha comprado ficava no coração do vale deCasablanca.

Porém, o engenheiro comercial fez uma jogada ilógica. Plantou as clássicas uvas brancas do vale e simultâneamente iniciou o cultura de parreiras de cabernet sauvignon, cabernet franc, merlot, malbec, pinot noir e syrah. Ao todo foram quase 30 hectares de variedades tintas “enfiadas” em Casablanca.

“Nós queriamos fazer uma coisa singela, que tivesse características distintas do clássico vinho chileno. No país quase não havia experiência em tintos de clima frio; mas no estrangeiro alguns dos melhores tintos são produzidos em zonas desse tipo. Do ponto de vista comercial, existia a oportunidade de conseguir preços por caixa mais altos do que a média nacional”, lembra Felipe Díaz, CEO de Loma Larga Vineyards.

Em teoria, uma idéia interessante, mas que aos olhos de muitos antecipava uma fracasso total. No Chile, nesses dias, os tintos eram sinônimo dos cálidos vales centrais, onde as uvas vingam quase sem dificuldades e obtem-se razoáveis volumes por hectare. Se meter em zonas frias sem dúvida significava a obtenção de produção menor.

Não obstante e depois de vários anos de “ensaio e erro” –período em que Díaz “puxou” o cabernet sauvignon e o merlot-, Loma Larga deu com um “time” de desempenho notável: o syrah, o malbec, o cabernet franc e o pinot noir.

Não foi à toa que na edição de 2008 da guia de vinhosDescorchados, seu cabernet franc arranjou 93 pontos e o título de monarca do setor “outros tintos”.

Incluso da ótica comercial a idéia de Díaz funciona melhor. As caixas de tintos de Loma Larga têm um valor médio de US$ 90.oo, bastante mais do usual nos envios chilenos.

Felipe Díaz já não está sozinho

Atualmente, não há vinha que não esteja plantando ou que não tenha planos de plantar tintos em áreas ribeirinhas como Casablanca, Limarí ou do sul, como Biobío. Algo impensável faz uma década, mas que hoje é uma tendência determinante na indústria vinícola chilena.

Procura internacional

Para Adolfo Hurtado, enologista e gerente da vinícola Cone Sul, atrás do auge dos vinhos tintos de clima frio há uma importante mudança no gosto dos consumidores internacionais.

“Existe uma mega-tendência a consumir tintos mais elegantes e frescos. A procura deles vai em aumento constante porque as pessoas estão procurando vinhos com menor concentração e sobre-extração”, explica Hurtado.

Por sua vez, Felipe García, enologista de Casas del Bosque, põe em destaque que o Chile tem muito a ganhar nesta nova ordem mundial.

“Graças aos tintos de clima frio nosso país está conseguindo vinhos de classe mundial, que combinam com a comida. Esta é uma área gourmet que ainda não é tão grande no mundo, porém que cresce sem pressa mas sem pausa”, afirma García.

E como se relaciona essa procura com o clima frio?

Simples: as temperaturas ribeirinhas ou do sul mais baixas limitam o incremento dos açúcares na uva, o que se reflete em vinhos com menos álcool. Em forma paralela, graças a que a maturidade das uvas leva mais tempo do que nas regiões mais cálidas, nas áreas frias os enólogos podem esperar que os taninos das uvas atinjam sua plenitude –e conseguir assim vinhos com características menos incisivas-.

O “morango da torta” é que as uvas obtêm uma acidez mais alta, o que faz com que os vinhos sejam mais frescos.

“Em geral, os tintos de clima frio têm uma expressão de cheiros muito interessante, são muito expressivos”, diz Paula Cárdenas, enóloga da vinha Matetic, localizada na região de Rosario, entreCasablanca e San Antonio.

Com um mercado internacional saturado de vinhos ultra-potentes e concentrados, dá para entender por quê os consumidores procuram produtos mais elegantes.

O mascarão de prôa

Sem dúvida, pinot noir é a cepa que mais incentivou as vinhas chilenas para olhar com olhos novos a costa e o sul para seus tintos.

A delicada cepa vinga apenas em climas frescos, e hoje em dia é uma das de maior procura internacional. Boa parte desse sucesso explica-se pelo interesse público que lhe otorgou o popular filme “Sideways”,“Entre copas”, em castelhano.

Graças à procura mundial muito ativa, o interesse empresarial por esta cepa está crescendo com força.

Córpora Wines, de Pedro Ibáñez, converteu-se na firma enológica com maior quantidade de hectares de pinot noir no hemisfério sul: mais de trezentos. Ibáñez apostou no frio e chuvoso vale do Biobío.

A vários centenares de quilômetros ao norte, em Casablanca, Felipe García dá um exemplo claro do atraente que é o pinot noir.

“A vinha do pinot está toda vendida. Temos um projeto até 2012 para aumentar fortemente nossa produção. Produto chileno de boa qualidade, tem procura”, explica García.

Segundo Alberto Antonini, flying winemaker italiano, as possibilidades do pinot chileno são muito boas.

“Acredito que aqui há zonas que não somente podem dar bons pinot, mas, se são bem trabalhados, ficar entre os melhores do mundo. Do que eu conheço de Leyda, a pesar de ser bom, apenas atinge a metade do seu potencial. Por exemplo, se se plantasse em alta densidade conseguiriam-se avanços notáveis”, diz Antonini.

Mas o Chile dos vinhos tintos frios não vive apenas do pinot noir: o syrah também está dando o que falar.

A diferença dos seus parentes dos vales centrais, com mais corpo e álcool, em regiões como San Antonio, Casablanca e Limarí o syrah desenvolve uma personalidade mais sutil, fresca e com cheiros a especiarias.

“Os cítricos recebem muito bem essas características. Tendem a se associar mais com os syrah franceses que com os australianos, graças à sua elegância”, afirma Paula Cárdenas.

Novamente, não foi casual que em Descorchados 2008 seis dos melhores nove syrah viessem dos vales com influência marítima, comoLimarí, San Antonio ou Casablanca.

Por isso não chama a atenção que na indústria chilena do vinho exista a sensação de que o melhor está por vir.

“Muitas firmas estão entrando com seriedade nos tintos de clima frio. Não há dúvida de que este fenômeno vai explodir nos próximos anos”, sintetiza Jean Charles Villard, enologista da vinha Villard.

Cuidados especiais

Fica claro: produzir tintos em zonas frias é mais complicado. A maior umidade aumenta as possibilidades de infeções por fungos. E é necessário reduzir a carga de uvas por hectare. “Nos climas frios nunca se conseguem os 12 mil quilos por hectare que se atingem nos vales centrais. Na melhor das hipóteses, chega-se aos 8 mil quilos”, explica Rodrigo Romero, enologista de Porta de Viñedos Corpora.


sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Vale ou Vias?

Esta semana uma notícia levou-me a pensar no que realmente vale como identidade de um povo, região.
Uma divergência criou-se nos altos da serra.
Foi aprovado um projeto de Lei Complementar votado nesta segunda-feira pela Câmara de Vereadores de Bento Gonçalves, que acaba por lotear um dos mais antigos lotes do Vale dos Vinhedos.
A associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale) mostra-se contra este projeto de lei que certamente traria grandes prejuízos ao principal roteiro turístico do município e ameaçaria o primeiro destino de enoturismo no Brasil.
E fica a dúvida! Se mensurando os investimentos e lucros gerados a partir desta nova área urbana, valeria para a administração pública que sempre busca mais investimentos ditos como progresso? Ou seria mais importante para o terroir do vale manter intacta esta região de grande importância histórica, social, cultural e ambiental?

Mais detalhes http://www.academiadovinho.com.br/mostra_noticia.php?num_not=3233

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Os 7 pecados capitais como design de cálices de vinhos



O designer inglês Kacper Hamilton criou uma série de cálices. Como motivo escolheu os 7 pecados capitais: Vaidade, Inveja, Ira, Preguiça, Avareza, Gula, Luxúria.
Esses 7 cálices de vinho tinto são feitos à mão e em quantidade limitada. Os preços dos objetos de arte são informados diretamente.

IRA

INVEJA

VAIDADE

AVAREZA

LUXÚRIA

PREGUIÇA

GULA

http://www.kacperhamilton.com