A uva que veio do gelo
O icewine coloca o Canadá na rota dos grandes vinhos
O icewine coloca o Canadá na rota dos grandes vinhos
Uvas maduras e congeladas, a mais de 8º C negativos, aguardam a hora da colheita |
Difícil acreditar que uvas congeladas, numa temperatura abaixo dos 8ºC negativos, possam resultar em bons e complexos vinhos de sobremesa. Mas é exatamente o resultado da equação de vinhedos plantados numa região muito fria, com clima influenciado pelo lago Ontário, com variedades de uvas européias, como a Cabernet Franc ou a Riesling, e muita tecnologia que está colocando o Canadá no mapa da vitivinicultura mundial. No ano que vem, aliás, o país dos lenhadores comemora os 25 anos de sua primeira garrafa do chamado icewine, o vinho de gelo.
O potencial do país começou a ser explorado em meados da década de 1970 pelo austríaco Karl Kaiser – além do Canadá, a Alemanha (a líder na elaboração deste estilo de vinho) e a Áustria elaboram a bebida das uvas congeladas, também conhecida como Eiswein ou Vin du Glace. Kaiser imigrou para o país em 1969 e seis anos mais tarde fundou a vinícola Inniskillin em parceria com Donald Ziraldo, na época dono de uma chácara que vendia mudas de videiras. Os sócios elegeram a região de Niagara, em Ontário, fronteira com os Estados Unidos. Sua localização, na mesma latitude de Bordeaux, alimentava o sonho de Kaiser em elaborar um icewine de qualidade.
videiras de Vidal |
Nos vinhedos da Inniskillin, variedades européias como a Cabernet Franc e a Riesling foram plantadas, no lugar da popular Nebraska, utilizada pelas então cinco vinícolas que produziam vinhos em larga escala na região. No entanto, a uva Vidal, resultado do cruzamento das cepas Ugni Blanc com a Rayon d’Or, conhecida pela sua casca grossa e boa acidez, foi a principal aposta dos sócios. Em 1984, eles lançaram a pioneira garrafa de icewine canadense.
O grande reconhecimento veio em 1991, durante a Vinexpo, a mais tradicional feira de vinhos realizada em Bordeaux, França. Ziraldo cruzou o Atlântico com uma garrafa do Inniskillin Vidal 1989 e saiu da feira com o prêmio Grand Prix d’Honneur. Foi o passo necessário para mostrar que o Canadá poderia ter um vinho de sobremesa com sucesso internacional – atualmente, a Inniskillin exporta para 50 países, com destaque para o mercado asiático.
Com primeiro vinho lançado em 1984, o Canadá produz hoje mais de 885 mil litros de icewine por safra e tem até uma região de origem controlada |
cepa híbrida utilizada no icewine |
O sucesso da empresa inspirou outras vinícolas canadenses a investirem em vinhos premium. Hoje o Canadá tem até uma região vinícola de origem controlada, a VQA (Viniters Quality Alliance), produz mais de 885 mil litros de icewine por safra, e a elaboração deste vinho ícone segue uma série de regras. A colheita só pode começar quando a temperatura se mantém a, no mínimo, 8ºC negativos. Na Alemanha e na Áustria, o mínimo permitido é 7ºC negativos. O Canadá adota normas mais rígidas como forma de se destacar dos produtores tradicionais. “Quando chega a 8ºC negativos, a uva está solidamente congelada. 7º C negativos é a linha divisória”, explica Kaiser. O limite da colheita é 14ºC negativos – abaixo, a uva está tão congelada e sólida que o mosto final é pouco, excessivamente doce e quase impossível de ser fermentado.
uma gravura da vinícola da Inniskillin |
o vinhedo coberto de neve e a colheita noturna |
Na cave subterrânea, Karl Kaiser (à esq.) e Donald Ziraldo comemoram o sucesso de seu vinho pioneiro no Canadá |
As brancas Vidal e Riesling e a tinta Cabernet Franc são as uvas utilizadas no icewine da Inniskillin. Os dois primeiros apresentam uma cor dourada, e a uva tinta traz coloração semelhante ao rosé.“Não há contato do líquido com as cascas na fermentação e o pouco tanino adquirido durante a prensa dá esta cor”, explica Kaiser. No aroma, os brancos lembram frutas tropicais e notas de pêssego; no tinto, são notas de frutas vermelhas frescas. Nos dois estilos de icewine, o Canadá merece um brinde.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Fiquem a vontade...